domingo, 8 de maio de 2067

Pastor Alentejano

Leva o gado pelo cão,
neste campo belo e vasto,
num sem fim de solidão
Que flutua pelo pasto...

I
Quando o sol quiser brilhar,
neste campo, neste atalho,
há meio dia de trabalho
que se fez a trabalhar;
seu destino é madrugar
e dar vida ao alavão,
entre ovelhas e o colchão
faz o mesmo todo o ano,
o pastor alentejano
leva o gado pelo cão...

II
Leva o tarro na farpela
e o rádio p´ró relato,
acompanha o campeonato
embutido na courela;
a garrafa é uma estrela
que no cocho deixa o rasto,
o rebanho segue basto,
vai unido e imponente,
pelo golo está contente,
neste campo belo e vasto...

III
Aventa brados de genica,
solta berros, alguns nomes,
apregoa o Nuno Gomes,
- como é bom ser do Benfica!
É das coisas a mais rica,
eterno abraço de união.
Quando chega ao tapadão.
a merenda é p´ra comer,
não tem nada p´ra dizer
num sem fim de solidão...

IV
Vai fitando o companheiro,
o amigo dos seus dias,
nas tristezas, alegrias,
pede ajuda ao seu rafeiro;
faz-se à vida, sorrateiro,
no seu estilo sempre casto,
envereda brando e fasto,
de barriga contentada,
- é um ser, em debandada,
que flutua pelo pasto

(1998)

António Prates - In Sesta Grande