O teu olhar é terno e transparente,
que fala sem falar, mas com razão;
outrora foste um sábio combatente,
passaste à frigidez de um velho cão…
Passeias pelas veredas, já em vão,
consumindo as saudades do passado:
calmo, sempre lento e mansarrão,
e nessa calma já não entras no silvado…
Retiras mais proveito do teu estado,
olhas com um ar tão seco e sério;
e aqui, neste lugar d`outro passado
deixas-me a pensar no teu mistério…
Contemplas as paisagens como império,
ofereces aos coelhos seu descanso;
dominas, desta vez, este hemisfério,
caminhas no teu passo gasto e manso…
Só de olhar p´ra ti também me canso,
rendido ao teu latir do teu conselho...
Penso em abalar enquanto avanço,
penso em te seguir enquanto és velho...
(1999)
António Prates - Sesta Grande