domingo, 8 de maio de 2067

Moinhos do Guadiana (Alqueva)

Ó velas do meu moinho,
rodízios da minha azenha,
vão rodando lentamente
esperando que a morte venha!...

I
Há qualquer coisa no rosto
desse teu ser pachorrento,
como quem espera o vento
nas belas tardes de Agosto…
O que me causa desgosto
é ver o teu descaminho,
deixo neste pergaminho
saudades do teu passado,
e ao ver-te abandonado
ó velas do meu moinho...

II
Foste um símbolo da vida,
remoeste farinha a rodos...
foi pena não dar p´ra todos,
como é triste a despedida...
Foste pão numa guarida,
imperador real da brenha...
o meu ser em ti se empenha
em ser cantante e moleiro...
ó águas do meu ribeiro,
rodízios da minha azenha...

III
Rodopiando a nostalgia
onde o meu ser nada viu,
não laborou, não sentiu,
nem fez de ti moradia;
resta a minha simpatia,
o supor de quem não sente,
recordar o antigamente,
enaltecer a nossa História,
E os meus versos, na memória,
Vão rodando lentamente...

IV
Rodam como uma moagem
com carradas de cultura,
os sinais de desventura
dão-me gritos de coragem,
- são murmúrios da mensagem,
ruminada e tão gamenha...
Que a Natureza nos mantenha
Sempre a par do seu saber,
E todo o mais é só viver,
Esperando que a morte venha...

(2002)

António Prates - In Sesta Grande