domingo, 8 de maio de 2067

Fala-me

Fala-me do tempo e das intrigas,
e dessas coisas que dizemos por falar…
Diz-me prosápias das modestas raparigas,
que fazem renda numa casa à beira-mar…

Diz-me essa história proibida de dizer,
arrecadada no cacifo dos segredos…
Conta-me um verso, daqueles que dão prazer,
quando as vagas fazem rimas nos rochedos…

Canta-me um fado, com a tua voz castiça,
denunciando os infortúnios da miséria…
Fala do Povo, do Divino, e da justiça,
com essa crença que a justeza faz etérea…

Diz um olá… no meu ouvido encortiçado
pelo silêncio das palavras mais esquivas…
Fala do conto que não foi sequer narrado,
no nobre esboço do condão das narrativas…

(2008)

António Prates - In Sesta Grande